terça-feira, 14 de outubro de 2014

Choque de realidade

De repente você dá a volta e se depara consigo mesmo! Frente a frente, cara a cara! Quase 30, mãe, esposa, funcionária de uma empresa... O que foi que você fez com a sua vida, afinal de contas!? Onde foi parar aquela garota, tímida, mas cheia de atitude, entusiamo e sonhos!?
É, um dia a gente acorda e pá! A realidade te dá com um saco de "se toca" na cara! Você nem se conhece mais! Não sabe nem mais qual é a sua praia (e provavelmente a gíria nem é mais praia!?). Se sente velha e desanimada. Não consegue se lembrar quando foi que tudo desandou ou, então, tomou seu rumo por conta própria.
De repente você olha pra trás e os últimos 10 anos definiram sua vida. Não de um jeito ruim, mas numa rotina maçante, onde parece que na lista das prioridades, o "você" fica lá no finalzinho. Se der tempo, claro!
E você pensa que está tão enredada nisso, que não tem mais volta. A bola de neve passou e você está no meio, rodando, rodando, rodando, sem chance de sair.
Não me entenda mal, por favor! Não me arrependo de nada do que eu fiz (casamento, filho)! De longe são minhas maiores alegrias e não abro mão!
Me arrependo de não ter feito, seja lá o que for! O que é o mais triste de tudo! E não digo viajado, curtido, bebido, ou, sei lá, todas essas loucuras que os adolescentes precisam fazer! Não! Eu fiz tudo isso! Aproveitei minha adolescência em ótima companhia! E fiz o que quis!
O que eu não fiz foi me conhecer.
Ok! Estranho dos estranhos! Mas é a essa conclusão que chego! Não me conheço e o que eu conhecia - eu adolescente, tímida, mas cheia de atitude, entusiamo e sonhos - eu perdi! Está no vácuo, em algum lugar do tempo, perdida para sempre!
Não sei qual é minha cor preferida. Meu filme preferido. Minha música, cantor preferido. Qual é meu estilo? Do que eu gosto de fazer? Eu costumava gostar de escrever, criar histórias, será que ainda gosto? Será que conseguiria escrever alguma linha? Provavelmente, mas será que eu ainda gosto? Gostava de cor-de-rosa e borboletas, mas e agora? Não, definitivamente, não! Mas, então, o quê?
Costumava ter quilos de acessórios, brincos, pulseiras e badulaques. Hoje, um brinco pequeno e as alianças. Costumava pintar as unhas sempre, inclusive no salão. Hoje me vejo com as mãos nuas e sem cor.
Onde está aquela garota que, podia não ter, mas queria estar cheia de bossa?
Deve estar escondida em algum canto esperando a maré baixar...
Ou não.
Nunca fui de ver os problemas e me sentar num canto e chorar, ao menos não por muito tempo. Depois de enxugar as lágrimas, costumo olhar em volta e considerar os prós, contras e possibilidades. Que atitude tomar, se vou tomar alguma.
Alguém disse um dia que se deve escolher as batalhas que se vai lutar. E considerando o redemoinho de coisas a minha volta, deixei a prioridade, ou seja, eu, no final da lista. Se desse tempo, claro!
Acontece que esse tempo não sobra. Sempre surge alguma coisa, e, se não, estou muito cansada de tudo para me importar.
A questão é: preciso tomar uma atitude! Criar um compromisso comigo mesma! Dizer: Dá licença! Por que agora é a minha vez!
Simples assim!
Só que não!
Na minha cabeça, não tem como deixar nada de lado, ou pra depois, pra cuidar de mim. Não posso deixar meu filho de 9 meses sozinho pra ir fazer uma depi. E o maridão também precisa de um tempo pra ele! E aí tem roupa pra lavar, porque se não vamos acabar andando nus! E já é hora do papá! E o bebê precisa tomar banho! E quero brincar um pouco com ele! E aí acabou a energia e preciso correr pra cama e dormir, porque amanhã tem mais! E começa tudo de novo!
Se eu comprar essa briga, a peleia vai ser feia! Vou precisar do dobro de energia! Vou precisar organizar tudo pra que dê certo! Cobrir todos os ângulos! Não pode ter nenhuma falha! Porque não sou só eu no esquema geral das coisas!
A questão é: quanto tempo eu aguento, em qualquer das duas possibilidades?